domingo, 21 de março de 2010

Sacha em Construção

Uma notícia: Sacha Arcanjo ganha uma view. Agora tá na net. Agora é do mundo. Ele, que é pura arte, celebração da vida entre o lúcido e o lúdico, o sagrado e profano, o popular e o erudito, o lírico e o moderno, o real e o imaginário.

A quem não o conhece, esse texto aqui parece letra enfadonha, apressada e afetada de fã. E é! Que seja... pois são vários, tantos, diversos, intensos e sinceros outros que concordam comigo e retransmitem a mesma mensagem, que fico tranquilo em endossar o documento já assinado há tanto (e por tantos).


Pois se Sacha aportou nessa São Miguel Paulista ("paulista" de sobrenome, mas cosmopolita em seu abraço e provinciana no amor a seus "filhos"), vindo de São Gabriel, Bahia, há quarenta anos, esse foi um presente que todo o bairro (e a cidade de Sampa; e o estado de São Paulo, e o Brasil) agradecem, entre sinceros e comovidos.


Primeiro o bichogrilo juntou-se a Raberuan, para formar a dupla mais fecunda do Movimento Popular de Arte (MPA), surgido no final da década de 70 do século passado justamente para congregar todo o trabalho cultural e artístico que nascia e crescia no ventre do bairro naqueles tempos. Ao mesmo tempo, crescia em si a consciência do "por fazer" miltoniano ("todo artista tem que ir aonde o povo está"), e, em consequência disso, a militância cultural, política e social por uma cidade melhor, uma vida melhor, uma arte melhor.


Um dos resultados disso é que desde que a Oficina Cultural Luiz Gonzaga foi reaberta no bairro, em 1998, é Sacha que a coordena, com coerência e esmero. Quem comprova essa postulação é Nando Z, Simone Siraque, André Marques, Drica, Claudemir "Dark´ney" Santos, Ivan Néris, Rodrigo Marrom, Tarcísio Hayashi, Vinícius e Caio Casé, Alyne Garroti, Keila Fuke, Isadora Diaz, Jocélio Amaro, Thiago Araújo, Sueli Oliveira, Flávia Bertinelli, Cléber Eduão, Éder Fersant, e múltiplos outros, que entenderam sua mensagem e levam avante esta bandeira de fazer, pensar e distribuir arte enquanto elemento norteador da vida, em sua singularidade e pluralidade.


Dono de uma carreira incadescente, o Arcanjo tem 4 CDs lançados: "Feito Bicho" (2000), "O Inocente" (2004), "Sacha Arcanjo" (2008), e "Sacha 60" (2009), este uma compilação de seus maiores sucessos que muitos de seus fãs e amigos gravaram para ofertar-lhe como presente pela pasagem de seu 60. aniversário, em novembro último. Seus shows têm rolado com frequência nos mais diversos espaços, onde sempre podemos notar o carinho que o público lhe dedica quando ouve alguns de seus sucessos, como "Chão Americano", "Projeção", "Bênção", "Jangadeiro", "Leve", "O Maior Carente", "Menina Singela", entre muitos outros. Ou quando nos recupera os ricos repertórios de Zé Geraldo, Luiz Gonzaga e Alceu Valença, para nossa degustação inebriada.

Dono de uma voz maviosa e caymmiana em sua dolência tranquila; de uma poesia que tanto pode ser certeira e exata quanto lírica e cerebral; cortante e rural, como urbana e moderna; recupera a expressão sonora dos mesmos moldes que ajudaram um dia a confeitar os versos de Cartola, Cazuza e Gonzaguinha, sem denotar para isso uma influência direta, mas apenas relatando que essas terras que nos ofertam tantos jogadores de futebol, tanto oferecem talentos musicais a granel. Sacha Arcanjo é um deles.