Um comentário banal de Sueli Kimura no início deste ano caiu como um raio na minha cabeça. Houve um curto circuito e entrei em parafuso: Sacha faria 60 anos em novembro e de quebra completaria 40 de São Miguel. Meu Deus, já? Quem diria? O tempo não passa, voa, e etc. etc.
Que pôrra pensei quando a ficha caiu, não podemos deixar esta data passar em branco. Temos que armar alguma presepada para celebrar com dignidade e estilo os 60 anos e a obra notável do nosso poeta. E comecei a viajar na maionese.
Um CD/DVD, os amigos cantando as músicas de Sacha. Um documentário refazendo os rastros e as digitais da sua poesia genial na roda-viva São Gabriel / Irecê / São Miguel culminando com uma festa surpresa, um grande evento baba-ovo na Praça do Forró no dia de seu aniversário, 07/11/2009.
Quando expliquei o projeto para Raberuan, de imediato ele abraçou a idéia com entusiasmo.
No início do ano estávamos, eu, Gilberto Braz, Raberuan, Carmelita e Cléston Teixeira, formatando o Projeto Integração e Rupturas – IR, que previa 08 eventos artístico-culturais em 08 CEUs diferentes da Zona Leste no período de julho de 2009 a julho de 2010. Pensei que uma das ações do IR poderia ser em novembro na Praça do Forró com o tema Sacha Arcanjo onde faríamos o registro honesto e respeitoso que sua arte ímpar merecia há muito tempo.
Em julho e agosto realizamos 02 edições do projeto no CEU Tres Pontes e no CEU São Carlos, e em setembro ficamos sabendo que por motivos alheios à nossa vontade a continuidade do IR neste ano tinha miado. Ficamos a ver navios já que dependíamos desta verba para viabilizar a indaga do Sacha.
Ficamos neste o que fazer até o final de setembro quando um dia estávamos, Cléston, Raberuan e eu, tomando umas cachaças no Rubão, estávamos já meio melanciados e Cléston teve a idéia: vamos fazer esta merda na raça e vamos fazer só o CD.
Então Raberuan e Cléston conversaram com Mi e Mizinho de Carvalho, do Musical em Mi e explicaram o conceito do Sacha, 60 anos, que estava inserido no contexto de um projeto maior de registro das obras dos poetas e compositores da nossa região, criação de memória cultural, homenagem ao poeta e blá, blá, blá, Mi e Mizinho concordaram em trabalhar em regime de parceria no CD, o que era garantia de qualidade técnica no resultado final do trabalho, a um preço quase simbólico.
Edsinho Tomaz levantou uma parte da grana enquanto eu e Cléston completamos as outra duas partes. Investimos para tanto os cachês que recebemos pela participação no IR. Aí já tínhamos entrado em outubro e começamos a correria atrás do próprio rabo.
O norte deste trabalho já estava mais ou menos claro. Ele teria que ser surpresa para o Sacha, o off dos offs, e dele teriam que participar todos os amigos que fizessem parte de sua história. Ele teria que ser acústico em respeito às referências do próprio Sacha. Ele teria que privilegiar a poesia do Sacha e para isso teríamos que garimpar em sua obra as pérolas esquecidas.
Raberuan fez, por razões óbvias, uma primeira triagem da obra de Sacha e apresentou uma lista de mais ou menos 50 músicas, que reduzimos para mais ou menos 30 e ficamos fazendo um exercício de encaixá-las nos perfis dos amigos intérpretes, fulano podia cantar esta, beltrano aquela e aquela outra vai para a novela das oito na voz de sicrano, punhetagem pura como podem ver. Fiquei tirando as letras, Raberuan e Cleston preparando os arranjos.
Quando começamos o corre-corre maluco contra o tempo para contatar e convidar os amigos do poeta para participar do CD percebi que havíamos colocado em movimento as rodas de uma energia criadora poderosa porque todos sem exceção aceitaram de forma total e incondicional o Sacha, 60 anos. Percebi que a homenagem ao poeta virou um momento mágico de emoção e expressão do inconsciente cultural coletivo de um grupo que nasceu em São Miguel no final dos anos 70, atravessou as décadas seguintes aos trancos e barrancos e continua aí com novas gerações incorporadas. Quem ouvir o CD sentirá esta emoção e expressão escorrendo como mel de cada faixa.
Tantos amigos, tantos poetas maravilhosos, intérpretes tantos. Silvinho Kono, Beto Rio, Gildo Passos, Silvio Araújo, Jocélio Amaro, Edsinho Tomaz de Lima, Grupo GRAVE, André Marques, Glendson Barreto, Éder Fersanti, Rubinho do Rio, Selma e Tião Baía, Adilson Aragão, Escobar Franelas, Fábio Lima, Valter Passarinho, Edvaldo Santana, Zulú de Arrebatá, Osnofa, Cláudio Gomes, Gilberto Braz, Akira Yamasaki, Luis Casé, Ronaldo Ferro, Marcos Rio, Ceciro Cordeiro, Musical em Mi, Cléston Teixeira, Vinícius Casé, Aimê e Ravi Landim, Eliel Lima e Raberuan. Ao ouvir o primeiro copião suspirei aliviado: missão cumprida.
Algumas ausências indesculpáveis devem ser creditadas ao esquecimento e à incompetência dos organizadores, nunca à má fé. As mais gritantes dentre elas, as de Claudemir Santos, Ivan Néris, Élton Gabriel e Xico Leite serão corrigidas com suas participaçõe na versão definitiva do CD.
Um dia antes do aniversário do Sacha estávamos tomando uma cerveja no CDC Tide Setúbal, Cléston, Raberuan e eu, e o orgulho era o nosso sentimento dominante, a constatação do dever cumprido e a certeza de que se o Negão não balançasse dessa vez, nunca mais.
Akira Yamasaki.
21/11/2009.
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