Sarau com Sacha Arcanjo – História de um Artista e Cidadão
Não adianta dizer que nós, que cultuamos a obra de Sacha Arcanjo, esse querubim desbravador cultural de voz maviosa, poesia artesã e militância cidadã. Não adianta falar que amamos, proclamamos e devotamos um amor profundo a um artista tão nobre, de voz franca e tranquila, de gestos comedidos, de pensamentos profundos e aplicáveis à arte e ao dia-a-dia. Não adianta, pois – tomando aqui o bordão do Obama – definitivamente, Sacha é o cara.
Tivemos na última sexta uma oportunidade única de ouvi-lo cantar e contar suas histórias. E são tantas, e são tão belas, que corremos sempre o risco de, discorrendo sobre ele, falar em demasia, elogiar ao quadrado, puxar o saco e deixar a crítica passar ao largo. Razões para pleonasmos e hipérboles não faltam, mas vamos tentar manter alguma racionalidade.
Faço coro com tudo isso pois não tenho culpa se, toda vez que posso ouvi-lo, uma aura celeste desce sobre meus ouvidos e meus olhos, e sei que, mais do que entretenimento, estou participado de um ritual, um culto ao belo.
No sarau com Sacha Arcanjo n´A Casa Amarela, sexta-feira última (07 de outubro), ele, desprevenidamente, pegou o violão para testar o som e, ao término da breve interpretação, o público o aplaudia. Não teve jeito, o show começara. Rememorando então seu nascimento em Irecê, Bahia, no distrito de Gabriel (hoje município São Gabriel), Arcanjo viajou de volta ao passado, recordou passagens da adolescência, os primeiros aprendizados, a viagem para São Paulo, a chegada em São Miguel, o emprego na Bardela, a parceria com Raberuan, as cantorias no quintal de casa, a visita dos pesquisadores que serviram de base para a exposição de arte na Capela Histórica em 78, o surgimento do MPA, os shows, as viagens, os discos, os 60 anos.
Acima disso, cantou e explicou o processo de criação de alguns dos seus sucessos como Chão Americano, Jangadeiro e Projeção. Declamou poesias, falou de tempos difíceis, não fugiu de reflexões mais elaboradas sobre a condição de ser artista na periferia de um grande centro urbano. Sacha, enfim, brindou-nos com seu melhor.
Quando findou, passava da meia-noite e meia. Não importa, estávamos todos como que envolvidos em um manto sob os auspícios da Beleza. E essas imprecisões do tempo são típicas para quem está em êxtase.
Nós estávamos.
Escobar Franelas - 08/10/2011.
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